Demanda por solúvel muda comércio de café
Embarques de café na Colômbia:
tradicional exportador de arábica, país sul-americano também se destaca
no comércio de solúvel, cuja demanda é forte. O contínuo crescimento do
consumo global de café, sobretudo solúvel e em países emergentes, tem
provocado mudanças importantes no comércio do produto. De olho nesses
mercados em expansão, países produtores com tradição na exportação
inclusive de arábica, de melhor qualidade, vem ampliando as importações
de café robusta, menos valorizado e matéria-prima básica da bebida
instantânea. A estratégia serve tanto para que esses países continuem a
atender suas demandas domésticas, preservando os embarques da variedade
mais cara para países ricos, quanto para ampliar as exportações de
solúvel.
Pesquisa divulgada nesta semana pela
Organização Internacional do Café (OIC) mostra que os embarques da
bebida instantânea pelos países produtores crescem a uma taxa de 7,5% ao
ano desde 2000. Estas exportações passaram de 4,7 milhões de sacas, no
início da década passada, para 10,5 milhões em 2011, puxados por Brasil
Índia, Colômbia e Equador. A pesquisa indica que, nesse contexto, muitos
países exportadores têm incentivado a criação de unidades de
processamento de solúvel, a maioria em parceria com as poucas
multinacionais que dominam esse mercado.
O movimento tornou-se possível porque o
comércio de café em grão verde e industrializado entre países
exportadores aumentou quase 12 vezes de 2000 para 2012 - de 861,8 mil
para 10,174 milhões de sacas, conforme a OIC. Se consideradas também as
tradicionais reexportações de países importadores que compram a
matéria-prima e vendem produtos de maior valor agregado para nações
produtoras, o volume aumenta para 11,374 milhões de sacas em 2012, ou
10% das exportações globais e totais de café no ano (113,1 milhões de
sacas, 41% de robusta).
Somente Vietnã e Indonésia, grandes
produtores de robusta, embarcaram para outras nações exportadoras 3
milhões e 3,6 milhões de sacas em 2012, respectivamente. Esses países
são, de longe, os maiores exportadores nesta frente. A terceira posição
nesse ranking ficou com o Brasil, mas com menos de 1 milhão de sacas
embarcadas em 2012, de acordo com estatísticas da OIC.
Entre os destinos dos embarques de exportadores para exportadores em 2012, 3,1 milhões de sacas não tiveram seus destinos identificados em razão da falta de estatísticas confiáveis. Outras 3,1 milhões de sacas desembarcaram nas Filipinas, enquanto 1,1 milhão foram compradas pela Colômbia. O Brasil recebeu apenas 42,7 mil sacas, segundo a OIC, mas o número é contestado por Guilherme Braga, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), que estima entre 5 mil e 6 mil sacas.
Braga corrobora que a expansão das
exportações globais de robusta no mundo tem ligação direta com a compra
do produto por países produtores. Por isso, afirma que o crescimento
desse mercado não envolve apenas a substituição do arábica nos "blends"
de café torrado e moído, mas o suprimento da demanda pela bebida
instantânea. Além do preço mais baixo, o crescimento do consumo de
solúvel ocorre em muitos países consumidores de chá. De acordo com
Carlos Brando, sócio-diretor da P&A Marketing Internacional, o
instantâneo é a migração mais "direta" do chá para o café.
"Mesmo entre países produtores, o consumo
é sobretudo de solúvel", afirma Brando. Entretanto, diz ele, não se vê
uma tendência de aumento significativo do consumo de solúvel em países
consumidores tradicionais. O que acontece nesses mercados é o aumento do
uso de robusta nos "blends" com o arábica para o torrado e moído,
observa Brando. A P&A estima que o crescimento do consumo de café
nos países emergentes será de 3% a 4% nos próximos dois a três anos,
impulsionado principalmente pelo solúvel, ante menos de 1% (entre 0,4% e
0,7%) em tradicionais consumidores como Estados Unidos, Europa e Japão.
Nesse tabuleiro em transformação, a Índia
é um dos países que mais ampliam a produção e exportação de café
solúvel. O país asiático exporta robusta de melhor qualidade e importa o
grão do Vietnã e da Indonésia para fabricar a bebida instantânea,
conforme Brando. No México, o solúvel representa 80% do volume consumido
de café. Na América Central, tradicional em arábica, o consumo de
solúvel é maior que o de torrado e moído, conforme a P&A. No Brasil,
esse consumo é baixo, de 5% a 10% do total.
O Brasil, maior exportador de arábica do
mundo, mas que também produz robusta, pode ficar de fora desse "novo
mercado", na avaliação de Guilherme Braga, pois exporta apenas cerca de
10% da produção da espécie menos valorizada, com forte demanda por parte
da indústria local. Já Brando acredita que o Brasil poderá, sim, fazer
frente ao crescimento do consumo mundial de café robusta. "O Brasil vai
ter que virar exportador e terá de se alinhar aos preços
internacionais". Nos últimos dois anos, o robusta tem sido negociado no
mercado interno por valores cerca de 20% superiores aos praticados na
bolsa de Londres.
Por outro lado, os preços internos
atrativos podem ser um impulso para a ampliação da produção no Brasil
nos próximos anos. Para a safra 2013/14, a projeção média da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab) para a colheita brasileira de robusta
indica 12,3 milhões de sacas, ante 12,5 milhões do ciclo 2012/13.
Autora: Carine Ferreira. Fonte: Valor Economico
CNA
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