Os cafeicultores brasileiros estão segurando boa parte da produção à espera de preços mais elevados. No ano passado, os torrefadores e as empresas de alimentos aproveitaram o cenário de escassez do grão no mundo. Os preços das sacas atingiram o nível mais alto em 14 anos, uma cotação média de R$ 500. Hoje, a R$ 370, os produtores estão descontentes com os preços e tentam protelar as vendas, apoiados nas economias dos últimos anos e no fundo governamental Funcafé, que oferece empréstimos, sem os quais teriam de vender as safras imediatamente.
Em setembro do ano passado, 56% da safra anual já havia sido vendida. Nesse ano, segundo estimativa da consultoria Safras & Mercado, cerca de 43% foi comercializada. “A comercialização segue lenta”, diz o analista de café da Safras & Mercado, Gil Barabach. “Os produtores estão administrando as vendas para reduzir os efeitos da oferta no curto prazo.”
No ano passado, a produção brasileira de café commodity alcançou 50 milhões de sacas, a maior em dez anos. Nesse ano, a estimativa é ainda maior: os cafeicultores brasileiros produzirão 54,9 milhões de sacas até o fim de 2012. A oferta pode derrubar o preços até que a demanda no hemisfério norte aumente com a chegada do inverno. “É preciso ter cuidado”, diz Barabach. “Evitar a afobação na hora de vender é valido, mas isso gera riscos.”
Os financiamentos do Funcafé seguem as regras do Sistema Nacional de Crédito Rural, com taxa de juros de 5,5% ao ano. Por enquanto, R$ 900 milhões já foram aprovados para linhas de crédito destinadas à estocagem e mais R$ 600 milhões foram liberados para financiar estoques ainda nesse ano. A quantia representa aumento de aproximadamente 150% nas verbas destinadas à estocagem em relação a 2011.
“No ano passado, como a safra era menor, o foco ficou no custeio e na colheita e para estocagem foram destinados cerca de R$600 milhões”, diz Edilson Alcântara, diretor do Departamento do Café do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Estes países, porém, enfrentam problemas na produção. “A Colômbia está tendo problemas com pragas, o México é completamente desorganizado e não possui um sistema de apoio efetivo ao produtor, e países como a Etiópia, Angola e Moçambique têm produtividade baixíssima”, diz Edilson Alcântara, do Mapa. Estocar pode ser uma atitude arriscada, mas com o aumento do consumo há uma perspectiva de manutenção de demanda. “O Brasil é o maior exportador e o segundo maior consumidor de café, tem de saber administrar os preços, não pode entregar assim”, diz Alcântara.
A diretora executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais, Vanúsia Nogueira, também acredita nas projeções otimistas dos exportadores brasileiros, “na próxima safra vamos exportar 30 milhões de sacas”. Entre 2011 e 2012, as exportações de café totalizaram 24,7 milhões de sacas segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). O café commodity representou cerca de 9% das exportações totais entre os meses de janeiro e setembro desse ano.
Falta de tecnologia
A única máquina desenvolvida para esse tipo de cultivo é brasileira e se parece com mãos que derrubam os frutos de café do pé e substituem a força de trabalho de dez homens. Ainda assim, a tecnologia é insuficiente. “Ainda precisa muito do ser humano”, diz Alcântara. “No cerrado, uma colhedeira mecânica colhe de 30 a 50 hectares com apenas um homem, é uma velocidade estupenda”.
O cultivo de montanha é comum em outros países, mas até hoje em nenhum país foi desenvolvida a tecnologia necessária para esse tipo de colheita. Na Colômbia e no Vietnã, por exemplo, o café também é de montanha, mas a mão de obra barata e as intervenções estatais tornam a colheita manual ainda muito rentável.
No Brasil, o cultivo é cinco vezes mais caro do que a cafeicultura de cerrado. “A colheita mecânica custa 20% da colheita manual”, diz Alcântara. Por enquanto, pouco mais de 50% do café produzido no Brasil é de montanha.
Fonte: iG Economia - Agropecuária
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