O início da colheita do café está permitindo ao produtor verificar o tamanho real da quebra de produção devido ao clima seco e às altas temperaturas em janeiro e fevereiro. ´O café está mais leve e menor do que o normal´, contou o produtor mineiro José Carlos Cepera, em entrevista ao Broadcast. ´A falta d´água impediu uma boa formação do grão. Alguns cafés estão com um em vez de dois grãos.´ Cepera cultiva 840 hectares com café arábica na Fazenda São Paulo, em Oliveira, no centro-oeste de Minas, na região conhecida como Campos das Vertentes. O Estado de Minas é o maior produtor nacional de café.
Cepera já colheu cerca de 15% da área total e a quebra na produção deve ficar entre 15% a 20%. ´A expectativa era colher cerca de 30 mil sacas, mas devemos colher entre 24 mil e 25 mil sacas.´ Ele disse que nunca viu algo semelhante em 32 anos na lida com a cultura. A queda no rendimento é percebido no momento de ´transformar´ a saca de café em litros da bebida. Em anos de produção normal a fazenda tem o equivalente a 500 litros de café para uma saca de 60 kg. ´Nesta safra, precisamos de mais litros: 600 a 650 para uma saca´, conta sobre o fato de os grãos estarem menores e renderem menos. O produtor, no entanto, se considera um privilegiado. ´Tivemos algumas chuvas que ajudaram as lavouras. No sul de Minas, há relatos de perdas de 30% a 50% da produção´, afirma.
Esse quadro de menor produção no Brasil, maior produtor e exportador do mundo, provocou um rebuliço no mercado de café. As cotações futuras do arábica na Bolsa de Nova York dispararam e acumulam valorização de cerca de 50% este ano.
Mas além do problema com o clima, José Carlos Cepera relata que as dificuldades com despesa com mão de obra também atrapalham a vida do cafeicultor. Ele argumenta que, do custo total de 1 saca de café, 40% a 45% é com mão de obra. Desse porcentual, 80% é desembolso com trabalhador na atividade de colheita. ´Falta disponibilidade (de trabalhadores) e a parte trabalhista encarece ainda mais a atividade´, argumenta.
A alternativa é a mecanização das lavouras. De acordo com Cepera, um dia de trabalho de uma máquina automotriz colhedora de café equivale ao trabalho de cerca de 80 homens. Atualmente, cerca de 50% da colheita na fazenda já é realizada por meio de máquina (automotriz e derriçadeira). A estratégia é continuar a eliminar talhões mais antigos, em áreas de relevo acidentado, difíceis para a entrada de máquinas. ´Sem isso (mecanização), fica difícil garantir alguma margem´, explica Cepera. A produtividade do café da Fazenda São Paulo é de 35 sacas a 40 sacas por hectare, para uma média nacional de 20 a 25 a saca por hectare. A colheita de café na Fazenda São Paulo deve se encerrar em setembro, dentro do prazo programado.
Compensação no pós-colheita - Para compensar a perda de rendimento, o produtor investe na tecnologia pós-colheita. ´É uma série de cuidados para aumentar o volume de grãos de qualidade, destinados à exportação´, afirma o produto. A fazenda tem cerca de 10 secadores de café, além de 32 mil metros quadrados de terreiro, para secagem ao natural. O correto manejo da propriedade é endossado pelas certificadoras internacionais Rainforest Alliance e UTZ Certified. ´É uma infraestrutura cara, mas somos recompensados com preços pelo menos 10% acima do mercado´, avalia Cepera.
Das cerca de 25 mil sacas colhidas este ano, 60% vai apresentar qualidade para exportação. ´A média, nas fazendas brasileiras, é um pouco mais baixa. Cerca de 30% a 40% da safra é destinada ao mercado externo´, estima Cepera.
O produtor não se entusiasma muito com a alta das cotações internacionais do café, justamente por causa da quebra a safra brasileira. ´A alta de preços ajuda, mas não é um exagero e apenas compensa a queda na produção´. O custo médio de produção de lavoura mecanizada está em cerca de R$ 300 a saca e, no mercado, o produto tipo exportação vale hoje cerca de R$ 400 a saca.
AGÊNCIA ESTADO
TERRA VIVA
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